quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A AVÓ


A AVÓ


Tudo em redor convida a divagar, o calor, o lento baloiçar da rede, a leve aragem faz cair algumas folhas e sem dar por isso, como sonhando, oiço:
-Meninos então as boletas? são quase horas dele chegar.
Ele era o meu avô, figura paternal de grande austeridade,diariamente atribuía tarefas aos netos, brincar só após a apanha das bolotas que caiam do grande sobreiro que restara junto à casa.
Todos lhe tinham o maior respeito mas, não sei bem como, só quando víamos a santa da avozinha pegar no balde, deixávamos a brincadeira e íamos a correr ajudá-la na apanha das famosas bolotas, responsabilidade nossa que ela sempre assumia.
Ele era alto como um mouro, não recordo um sorriso no seu rosto nem um ar de abespinhado connosco, era um ser um pouco rude moldado pelo sol alentejano.
Ela a mais doce das avós, sempre preocupada com o nosso bem-estar e feliz por nos ter em redor, mesmo quando tinha de ocultar as nossas traquinices do meu avô, toda ela era sorrisos.
Embora parecessem seres tão opostos nunca vi desentendimento entre eles, ela parecia adivinhar os seus pensamentos, foi sempre o elemento unificador da família.
Quantas recordações, nas ninhadas de pintos e coelhos demarcava um para cada neto, éramos cinco então, cada um tinha a sua horta, grandes aventuras todas super-visionadas por ela.
Quantos sonhos alimentados pelas histórias que reinventava para nos adormecer.