quinta-feira, 29 de abril de 2010

ABRIL 1974

Desde que me conheço sempre fui da oposição, provavelmente é algo que me está no sangue como no de qualquer alentejano que não seja herdeiro de latifundiário, conquanto os latifundiários de hoje sejam maioritariamente os filhos dos feitores de então.
Relembro com saudade a luta por melhores condições de trabalho no tempo da “outra senhora”, trabalhava então na central de correios no Terreiro do Paço, também as corridas à frente da polícia como no aniversário da morte de Ribeiro Santos em manifestação realizada no Rossio em Lisboa, quando em Março de 1973 mais uma vez tivemos que correr ao toque de caixa dos nossos policiais “protectores” só por termos ousado ir ao coliseu para ouvir, o Zeca, o Adriano e tantos outros que atreviam-se a cantar o que lhes ia na alma.
Seria inconsciente? Tinha a inconsciência da minha geração, da juventude que sonhava com a libertação dos povos que estava farta de ver partir para a guerra os seus irmãos, familiares e amigos.
Se naquela altura não respeitava minimamente os nossos opressores e esbirros, hoje respeito todas as opiniões, entendo quem tem tachos chorudos esteja determinado em mantê-los, mas isso não quer dizer que os defenda, não foi isso que tanta juventude imolada sonhou.
O que mais me fere é a mentalidade dos que gerem os partidos políticos deste belo País, e não abro nenhuma excepção por muito que isso fira a sensibilidade de alguns, no governo, nas autarquias e empresas públicas quem não esteja filiado no partido dominante está feito, pode concorrer à vontade aos lugares disponíveis, mas apenas para os seus parceiros, a competência e a formação não tem qualquer valor o que importa é mesmo o cartão do partido.
No tempo da outra senhora costumava-se dizer que tínhamos que arranjar cunha maior que a base de D. Afonso em Viseu, mas hoje qualquer cacique local coloca a família toda onde quer, se não existe vaga cria-se uma e o resto do Zé Povinho que se dane.
Não foi nisto que acreditamos quando de deu o 25 de Abril e quando livremente festejamos 1º de Maio em 1974 em Portugal.
GIA